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Os Ratos - Dyonélio Machado - Análise De Obra

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COOPVEST - Profª Daliana 1 OS RATOS DYONÉLIO MACHADO 01. O AUTOR: Dyonélio Machado Entre os ficcionistas brasileiros da primeira metade do século XX, Dyonélio Machado sobressai pela agudeza concreta de seu intimismo, voltado menos para conflitos religiosos ou morais que para as dores miúdas e destruidoras do cotidiano. Dyonélio Tubino Machado nasceu em Quaraí, RS em 21 de agosto de 1895. Estreou na literatura com os contos de “Um pobre homem” (1927) e formou-se em 1929 pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, especializando-se em psiquiatria. Foi redator e diretor interino do jornal Correio do Povo, da capital gaúcha. Elegeu-se deputado estadual, mas com o Estado Novo perdeu o mandato e ficou preso dois anos. O escritor chamou a atenção com seu primeiro romance, Os ratos (1935), em que recompõe com meticulosidade e humor cáustico a vida da classe média gaúcha de seu tempo, às voltas com o árduo cotidiano. O livro recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras. Embora reafirmassem o mesmo intimismo materialista, os romances seguintes, O louco do Cati (1942),  Desolação (1944), Passos perdidos e Os deuses econômicos (1966), tiveram pouca receptividade. Dyonélio Machado morreu em Porto Alegre RS em 19 de junho de 1985. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda. Dyonélio foi homem de esquerda, e sua obra, pouco conhecida do grande público, vem sendo resgatada do relativo esquecimento a que foi relegada pelas editoras e pela crítica. Felizmente, pois se trata de uma das leituras mais densas e, artisticamente, melhor realizadas, das seqüelas que provocam o capitalismo selvagem e sobretudo das deformações de sofrimentos, traumas e cicatrizes, que o autor, como bom psicanalista, observa e analisa de maneira paciente e minuciosa. 02. Estilo de Época: Modernismo – 2ª fase – Geração de 30. 03. Gênero Literário: Narrativo – presença do intimismo e da sondagem psicológica. O Drama - O drama principal do romance não se concentra no leiteiro, nem nos ratos ou no dinheiro: concentrase na dificuldade para conseguir a quantia desejada, respeitando-se o limite de tempo e espaço. 04. Modalidade: Romance curto, devido a seu caráter ficcional; à extensão do assunto narrado, propiciando a divisão em capítulos; à trama complexa, envolvendo os episódios protagonizados por Naziazeno. 05. Publicação: 1935 06. Foco Narrativo: A obra é narrada em 3ª pessoa por um narrador onisciente (totalmente fora a trama) e cujo modo de narrar é apreendido pelo uso de verbos em 3ª pessoa. Esse narrador manipula, organiza as falas, os pensamentos e atitudes das personagens. Além disso, ele antecipa tudo aquilo que vai acontecer e ainda dá impressões bastante detalhadas de tudo e de todos. Trata-se, assim, de um narrador presente e onisciente, que se revela bastante crítico e consciente da matéria narrada. Um ingrediente essencial à narrativa é a ironia (humor) e até a mordacidade, com co m as quais o narrador intensifica a sua sátira sócio-política. 07. Estrutura da obra: O romance é estruturado em 28 capítulos, nos quais há entrelaçamento do passado e do presente. Esse fato provoca a quebra da linearidade dos fatos. Isso pode ser percebido pelo fato de Naziazeno, ao dormir, lembrar-se de fatos que ocorreram na manhã desse mesmo dia. Nesses capítulos, é narrado o percurso de 24 horas de desespero de um pacato cidadão, o funcionário público Naziazeno, que procura meios diversos para pagar uma dívida com o leiteiro. COOPVEST - Profª Daliana 2 08. Da publicação às temáticas . A obra OS RATOS foi publicada em 1935, tendo recebido o prêmio “Machado de Assis”. Enfoca o drama íntimo de um chefe de família humilde, de classe média, fazendo uma análise do mundo a partir das pequenas coisas massacrantes que envolvem o dia-a-dia das pessoas comuns e as anulam. São assuntos periféricos: 8.1 – Angústia do ser humano à condição urbana Os Ratos têm argumentos como a angústia diária de Naziazeno, pequeno funcionário público, captada em apenas vinte quatro horas de sua vida. Sua via crúcis começa pela manhã, quando o leiteiro ameaça de cortar o fornecimento de leite, caso Naziazeno não pagasse os atrasados... Desdobra-se num sem-número de humilhações e privações, num verdadeiro calvário para, afinal, obter, de amigos, o dinheiro do leite. Desemboca, numa noite de insônia e delírio e, na alucinação, os ratos da casa roem o dinheiro. 8.2 – Obsessão do encarceramento A marca registrada do escritor é a reconstrução miúda e obsedante da vida de um cidadão comum despossuído, aniquilado, condenado a uma vida sem mudanças, sem sustentação, indigna, desumana. 8.3 – Narrativa em círculo . A obra, de forma obsessiva, apresenta a figura circular; seja na forma de um relógio, de moedas, do sol, dos rostos das personagens e da narrativa que sai do presente, vai ao passado e volta ao presente. 8.4 - Luta por dinheiro O tema principal de Os Ratos é a luta desesperada de Naziazeno para conseguir, em um dia, dentro de uma cidade grande e insensível, dinheiro para saldar uma dívida com o leiteiro. Mistura-se a essa luta a ansiedade, o desespero, a sensação de fragilidade e inutilidade do ser humano que não tem recursos sequer para garantir o sustento digno da família. 8.5 - Lembrança do passado O passado, principalmente a infância, mistura-se ao presente de Naziazeno Barbosa. O enredo é arquitetado numa superposição de planos: os pensamentos e reminiscências do herói em confronto com a crueza da realidade citadina. Presente e passado alternam-se na composição da história. 9 – Visão Satírica . Através da sátira, da deformação, da caricatura, Dyonélio Machado, critica e ridiculariza certos valores sócioculturais. Assim, desnuda a hipocrisia das relações humanas, questionando criticamente instituições públicas e políticas. . Há, na obra, uma cruel crítica à maneira como o dinheiro acabou se tornando a mola propulsora das relações sociais, comandando a respeitabilidade, a ética, a dignidade e até injusta e facilmente, quando não arbitrária e despoticamente, degradando-as, detonando-as. Em suma, todos esses aspectos fazem de Os Ratos uma das obras mais nobres de nossa literatura. . O autor satiriza, através da figura de Naziazeno, o consumismo exagerado, o gosto pelo supérfluo. . Dyonélio Machado explorou efeitos cômicos, ridículos e patéticos, a partir das atitudes insensatas e desesperadas de Naziazeno em busca do dinheiro para pagar ao leiteiro. 1 – A ida de Naziazeno à casa de um desconhecido buscar um dinheiro de uma transação da qual Naziazeno não havia participado; 2 – A decisão de procurar o Sr. Rees, sem ao menos conhecê-lo; 3 – A vigília constante diante da porta de Otávio Conti, tentando provocar um encontro casual; 4 - O desejo de querer mais e mais, que levou Naziazeno a perder cento e sessenta e cinco contos de réis na roleta; 5 – Os gastos gastos com manteiga e queijo importado, após conseguir dinheiro com Duque. 10 – Versão estética Estilo intencionalmente fundamentado na realidade; Além da preocupação estética, o estilo de Dyonélio objetiva reportar a realidade, para COOPVEST - Profª Daliana 3 mesclá-la com visões críticas e análises sócio-político-humanas. O autor escreve uma literatura ativa e participante que alcança uma crítica ferina a estruturas sociais, vistas com ironia e denunciadas como ridículas. Seu estilo lembra o de Graciliano Ramos, seco, direto, cortante como faca, em que o fio narrativo vai se desdobrando em torno dos próprios fatos, diluindo a presença do autor/narrador, num clima de aparente indiferença e uniformidade. Micro-realista (como Machado de Assis) detém-se de coisas aparentemente mais significantes; atos falhos (gagueira, equívocos, esquecimentos); gestos miúdos, esgares dos olhos, tremores de mãos, tiques, indo, freudiamente, ao fundo do inconsciente, através da observação de atos e gestos aparentemente irrelevantes.  Naziazeno só retorna a consciência do real e adormece quando o leiteiro volta, e deixa o leite no portão. . Há momentos em que a densidade e a tensão dão à narrativa um clima irrespirável. 11 – Aspectos Linguísticos . Dyonélio Machado é um psiquiatra, que partiu de um fato corriqueiro – o sonho da mãe com ratos roendo dinheiro – e o uniu à realidade de seu consultório, construindo a novela/romance “Os ratos”, obra de grande densidade e tensão. . Por ter personagens populares, verifica-se a presença da linguagem objetiva, fluente, informal, discreta, leve, coloquial adaptada às situações específicas de comunicação. Exemplo: “Lhe ou mais um dia!” –   fala do leiteiro. Uma linguagem simples, direta, rápida, com um tal domínio da expectativa do leitor que lembra o trabalho de Camilo Castelo Branco em Amor de Perdição . Quanto à linguagem utilizada pelo narrador, verifica-se um linguajar mais elaborado, sem incorreções gramaticais. O autor utiliza-se de muitos diminutivos, que visam a diminuir o ser humano – rebaixando a condição humana num processo de infantilização. Uso constante de aspas com o objetivo de assinalar aquilo que poderia estar acontecendo, mas que, naquele momento, não passa de um devaneio; . Uso de parênteses com o objetivo de oferecer mais detalhes sobre a ação que está desenrolando-se; . Uso constante das reticências, as quais se colocam a serviço da expressividade da personagem principal nos discursos indiretos livres. 12 – Enfoque para a obra “Os Ratos” é uma obra de ficção cujo cenário central é a cidade de Porto Alegre. Apresenta uma ampla visualização da realidade brasileira, a partir de Porto Alegre, nos anos 30. A mediocridade do papel do protagonista no mundo se contrasta com a forma brilhante como Dyonélio Machado desenvolve a trama e nos envolve no drama do protagonista com diretas reflexões inseridas em nossas rotinas. A reviravolta na narrativa ocorre quando, ao anoitecer, pensamos que o caso está encerrado e percebemos que as vivências ecoam e retornam em ousadas lembranças dos movimentos do dia sob novos olhares. Sentimos com força a angústia de ser e de permanecer próximo do protagonista do escrito literário. 13 – Espaço e Tempo Em Os ratos as ações sucedem-se na cronologia de um dia (24 horas) na vida de Naziazeno. E o caráter cronológico dessas ações obedece rigorosamente ao relógio. A narrativa tem começo, meio e fim, visto que é iniciada de manhã com a briga do leiteiro, a seguir passa-se o drama do protagonista à tarde, quando tenta sanar seus problemas e, por fim, tem-se a noite de insônia deste até o raiar  do dia com o barulho do portão, anunciando a chegada do leiteiro. A temporalidade, a passagem das horas está marcada nos excertos abaixo: - Que horas serão? COOPVEST - - Profª Daliana 4 Sete e meia passadas. Vou com atraso.  A que horas você entra? Faltando um quarto pras oito. (p.15) Com o alívio, que foi refrescante como um banho, vem-lhe a noção da fome. Quase duas horas... Não sabe como pôde agüentar todo esse tempo sem comer. (p.53) Vimos, pois, que tudo segue firmemente para a frente. Porém, durante o relato que é feito na 3ª pessoa, também podemos constatar o tempo psicológico, tempo este que transcorre numa ordem definitiva pela vontade, pela imaginação do narrador. A passagem seguinte, extraída do XXVI capítulo, permite-nos observar a presença desse tempo durante as impressões que o narrador nos passa sobre o protagonista e que, portanto, revelam a suspensão do tempo do relógio por uns instantes:   De estar assim aconchegado, coberto, encolhido, lhe vem um calor, um suor. Descobre um ombro, depois o braço. Sente que vai ficando esperto outra vez. Qualquer coisa é motivo para o sono lhe fugir. A sua mente fica como que aguda, fina, apesar daquela imponderabilidade, daquele cansaço físico que a envolve...  Acha estranho não ter até agora ouvido o barulho do bonde “fantasma”. Porque com toda a certeza já  passou . Que horas serão? Não pode precisar. Ainda há pouco ouviu um quarto. (p.128) Verificamos que o tempo cronológico e o tempo psicológico se entrelaçam para realçar os movimentos profundos das reflexões do personagem principal, que o narrador onisciente registra. Assim, aliada ao tempo psicológico, surge em certos momentos na narrativa o fluxo de consciência, recurso que consiste em promover um embaralhamento do presente, do passado e dos desejos por parte do narrador ou personagem, dando-lhes maior densidade psicológica. Tal como um painel de imagens captadas por uma câmara instalada no cérebro do personagem que deixa o pensamento vagar por espaços e tempos incompatíveis, o fluxo de consciência cruza vários planos narrativos distintos, sem compromisso com a lógica ou com a própria ordem narrativa. A narrativa desenvolve-se em uma cidade (Porto Alegre, mas não foi nomeada) por volta dos anos 30. Os espaços O cenário central é a cidade de Porto Alegre Além do espaço da rua, existe o espaço da casa, onde Naziazeno sonha com os ratos. O bonde também se apresenta como espaço onde vários fatos acontecem. È o bonde, ao mesmo tempo, espaço de transformação e de alienação, visto que nesse veículo transitam inúmeras pessoas que mal se conhecem, aglutinando solidão e olhares indiferentes. É o bonde espaço fantasmagórico e enigmático. Os quintais dos conhecidos, por exemplo, indicam o bairro, a casa, os vizinhos e delineiam a preocupação excessiva de Naziazeno com os outros, uma vez que, após a briga com o leiteiro, todos tomaram conhecimento de sua condição de devedor e isso lhe fez temer julgamentos dos demais. 14. O Título: O título da obra deve-se ao fato de que, durante a narrativa, várias são as personagens comparadas a esse animal, como o escriturário, colega de Naziazeno. Nas ruas, os amigos do protagonista também são chamados “cavadores”; além do fato de Duque, ao pensar, ganhar feições de um rato: “Seu focinho perdeu aquela expressão neutra e mansa: um ar de concentração – de decisão – o envolve como que de uma chama morna...” Também Naziazeno tem ares de animal: “A seu lado Naziazeno ergue-lhe um focinho humilde. Vai fazendo gestos de aquiescência com a cabeça.” E é essa animalização do ser humano (zoomorfismo) que caracteriza o universo masculino da obra – homens alienados, resultado da perda de vínculos com o produto final de seu trabalho, o tipo de relação devoradora e simulada dos agiotas com os clientes, o ganho fácil, a extorsão dos demais feita pelo diretor; fatos que lhes absorvem certos atributos ( reificação, devoração, simulação, roubo, etc.), ações comuns a RATOS. 15 – Personagens: COOPVEST - Profª Daliana 5 As personagens criadas por Dyonélio Machado são esféricas, densas. Não há preocupação com aspectos exteriores, aflorando o lado íntimo ou psicológico. Naziazeno Barbosa vivia junto com sua esposa Adelaide e seu filho chamado Mainho. Trata-se de um funcionário público cujo trabalho não proporciona ganhos extraordinários, graus de dificuldades e que é monótono e sistemático. Observemos, então, o tom irônico na fala do narrador quando revela ser a atividade do protagonista totalmente dispensável, tanto que Naziazeno “leva um atraso de uns bons dez meses” na sua execução. De qualquer forma, Naziazeno não é um herói imbuído de grandes sentimentos, feitos fabulosos. A profissão do funcionário público cai-lhe bem. É um pacato cidadão, oprimido, solitário, cabisbaixo, tacitumo, inseguro, envergonhado da sua posição social a, além do mais, desde criança não almeja mudanças, não faz planos para conquistar posições mais dignas na vida. Naziazeno evita encontros para não ser observado, repreendido, abatido pelo fato de sentir culpa pelo que toda a sociedade considera ser fraqueza, falta da inteligência e ambição: a necessidade de pedir dinheiro. Isso pode ser comprovado em:  Naziazeno se julga “em débito” com os homens, desde que vai ser salvo pela bondade dos homens. Ele é todo humanidade, solidariedade. 0 cumprimento que dirige a seu Juca é acariciador. (p.25) Se o olhar estabelece a ligação entre o ser e o mundo, “o eu e os outros” para Cleusa Passos, ‘Naziazeno responde a essa ralação buscando a uniformidade, procurando ser igual aos outros e ‘ser igual’ significa pagar ao leiteiro.” Quanto ao nome do protagonista, é instigante verificar as semelhanças físicas que guarda com a palavra “Nazareno”, o que relaciona a via-crúcis de sofrimento e humilhação passada por Cristo em seus últimos momentos e a trajetória da personagem, nas suas 24 horas de desespero e dor, na tentativa de salvar sua pele, pagando a dívida com o leiteiro. Reparamos ainda na semelhança física da figura de Cristo com a do protagonista em:  Naziazeno figura-se aquela nova caminhada até a travessa Paissandu, ao escritório do agiota. Tem as pernas cansadas, pesadas, meio dormentes. Uma fadiga sobe-lhe por elas, lentamente, como uma inundação. (pag 82) Outras Personagens As diversas personagens que gravitam ao redor de Naziazeno. Mesmo que não ganhando tanta notoriedade na seqüência dos fatos, todos eles juntos ressaltam sentimentos e reações do protagonista, bem como revelam a frieza e a preocupação com interesses próprios na repartição pública, na rua, no comércio, no jogo, na agiotagem, o que resulta numa composição ampla do quadro social brasileiro da época. Adelaide - é a esposa de Naziazeno. Dentro da narrativa tem pouco espaço e o pouco que ocupa é quando contracena com o marido: aparece no primeira capítulo e nos últimos capítulos. Mostra-se passiva e humilde. É a única personagem feminina da obra. Mainho - filho pequeno do casal; estivera à beira da morte e conseguiu recuperar-se. O leiteiro não tem nome e possui um “ar de decisão e de insolência”, quando é visto encostado no balcão, “falando com os outras, gesticulando; depois sai... é o risco de um dorso vestido de camiseta muito justa cortando o ar. Pega as rédeas e abala, furioso...” (p.12) Fraga - é o vizinho que estava na rua em frente à casa quando ocorreu a briga do protagonista com o leiteiro. Possivelmente “não viu ‘nada’ “diz o narrador e acrescenta “Parece que tem os olhos nele. (em Naziazeno) Cumprimentar? não cumprimentar? O que incomoda é que ele vai responder o cumprimento com uma saudação entusiasta, saudação manhã-cedo. Dá a impressão, o Fraga, de ter uma vida bem arrumada.”(p.1 1) Isso COOPVEST - Profª Daliana significa que o Fraga não tem problemas financeiros. 6 Outro vizinho que, de certa forma, incomoda Naziazeno é o amanuense da Prefeitura. Tem mulher e filhos, anda sempre barbado, é madrugador, tem galos, “todas as exterioridades dum sujeito ordenado como o Fraga.” Possui um ponto em comum com o protagonista: tem dívidas; porém não honra os compromissos. Horácio e Clementino - são serventes que trabalham na repartição. Ambos têm o hábito de conversar amenidades um com outro durante o expediente. Contam histórias passadas, passeios, casos de cavalos, de sujeitos de outros lugares. “Naziazeno, por sua vez, vê com encanto essa vida”, que ele já supunha extinta, e que Horácio e Clementino, simples serventes ainda conheciam. Alcides - é considerado, de fato, um exímio companheiro de Naziazeno, pois sempre que a crise apertava, faziam sociedade. Geralmente, procuravam refúgio em corridas de cavalo, nas rodas de roleta, nas rondas pelos cafés, pelas praias e pelos agiotas. É dele o anel que será utilizado na negociação do empréstimo do dinheiro que Naziazeno almejava conseguir naquele dia. Mostra-se um homem de pouca envergadura, de pouca presença. Possui feições iguais, como de quem dorme, tornando-o, assim, um ser ausente e ingênuo. Duque - homem batalhador, tem a experiência da miséria. Através das falas do narrador temos a seguinte visão de Naziazeno sobre esta personagem:  Não recomenda a sua companhia (e o próprio Duque o sabe). Mas como acompanha com solicitude o amigo em situação ao agiota ou à casa dos penhores. É ele quem fala. Se há uma negativa dura a fazer, o agiota não se constrange com o Duque: diz mesmo, diz tudo, naquelas ventanas sovadas de cachorro sereno. Uma  providência, o Duque. (p.20) De fato, é o próprio Duque que simpatiza com a situação desesperadora de Naziazeno e tenta bater na porta dos agiotas para conseguir o dinheiro. Cipriano - é o motorista do diretor de Naziazeno. Possui ares de superioridade e isso afeta o protagonista. O diretor – Sr. Romeiro - possui um rosto “escanhoado”, a camisa limpa. Vale-se de palavras que lhe dão o ar de pessoa educada, sofisticada. Com humor elevado, faz palestra sabre a questão social, comunismo e integralismo, beirando ao discurso retórico, sem consistência argumentativa. Afirma, por exemplo, que “O integralismo é uma coisa que convém ao clima do Brasil: andar sem casaco...” Na única cena de que participa, é, bruscamente, interrompido por Naziazeno quando este lhe pede dinheiro na frente de todos ao que responde duramente: “Tenho eu porventura alguma fábrica de dinheiro?” (p.39) Dr. Rist - vem a ser o subdiretor que inspeciona as “obras” ao lado do diretor. Como seu chefe, “tem os olhos no chão, a atitude discreta.” (p.38) Justo Soares, amigo antigo do protagonista, atua rapidamente na narrativa. Passa por Naziazeno sem, contudo, cumprimentá-lo. Ele, o protagonista, conhecera o Justo Soares a propósito daqueles “metros cúbicos de recalque” um pouco intrincados. Fizera-se intimidade entre eles (Justo é um rapaz muito agradável). Felizmente tudo se solucionou, e já faz algum tempo. Agora Justo Soares não o cumprimenta mais: é que certas amizades se extinguem quando se extinguem os negócios que as originam. E é razoável. Quantos “conhecidos” seus nessas condições ele poderia remomerar! (p.40) Esse personagem abre espaço para compreendermos ainda mais como as pessoas conhecidas ou até mesmo desconhecidas vão oprimindo o protagonista, fazendo-o rememorar fatos passados que o levam a refletir sobre suas dificuldades de sobrevivência. Os negócios, sempre os negócios, as transações financeiras, colocam-se como ponto propulsor em suas vidas. A figura do Dr. Otávio Conti pouco se fixa no decorrer do enredo. Poder-se-ia dizer que ele faz parte de gente COOPVEST - Profª Daliana 7 “desprendida” que transita nos cafés, no centro da cidade. E o dinheiro não tem para ele, tanto valor como tem para as de vida sedentária como o protagonista. Andrade tem dívida com Alcides, porém não assume tê-la, conforme podemos constatar, na narrativa, no momento em que Naziazeno tenta cobrar dele o dinheiro devido e não consegue nada. Responde apenas que o real devedor é o Mister Rees, um alto funcionário bancário, sujeito “solícito e prestativo”. Para Alcides, essa explicação de Andrade não passa de uma mentira bem engenhosa dele. Costa Miranda, um cidadão “baixote”, possui atitude retraída, cara fechada e é um conhecido do protagonista. Ele empresta cinco mil réis ao Naziazeno, mas, antes de repassar-lhe o dinheiro, pede-lhe para lembrar Alcides de pagar a “letra” do agiota, pois era avalista de tal empréstimo. Vejamos o encontro dos dois em:  Naziazeno resolve não deixar passar aquela oportunidade: - Você não terá aí uns dez mil réis que me ceda até amanhã? Ainda não almocei. (Esta última frase fica-/he retumbando no ouvido. Ele sente um calor em toda a cara.) O outro nada lhe responde. Tem a fisionomia fechada e contempla-o fixamente. (p.56) Com esse dinheiro o protagonista desloca-se para a mesa de jogos para lá perdê-lo. Rocco - seria a agiota a quem se referiu a Costa Miranda. Duque lembra-se dele na tentativa de ajudar Naziazeno a obter a dinheiro. No entanto, ele não socorre a personagem, pois tinha suspendido temporariamente os empréstimos. Anacleto Mondina - “cidadão meio velhusco”, é também um sujeito que passara dificuldades na vida, tendo que contar níqueis para a bonde, juntar o dinheiro dos vidros e garrafas vendidos pela mulher e de sofrer, por fim, a ação de despejo contra ele. Ao lado de Duque e Alcides, ajuda o protagonista a voltar para a casa com o dinheiro. Tornar-se-á avalista. O agiota Fernandes - é outro que recusa a ajudar Naziazeno, uma vez que estava sem dinheiro no momento. Assunção - Agiota da Rua Nova. Nega-se a emprestar dinheiro. Outro agiota é o Martinez, dono de uma casa de penhores, sua cara nada informa, “seu andar firme pode tanto ser atenção como curiosidade”. O anel, objeto que poderia servir de pagamento da dívida, encontrava-se com ele. Alcides resgata o anel para fazer outra transação com ele. Dupasquier, dono de uma joalharia, recebe Duque, Alcides, Mondina e Naziazeno em sua loja. La tentam empenhar o anel por trezentos e cinqüenta mil réis, porém ele nega esse tipo de negócio. 16 – Enredo: OS RATOS Naziazeno Barbosa, funcionário público, é o próprio perfil do brasileiro. Ele é casado com Adelaide e pai de Mainho, menino de quatro anos. Esse homem tivera um dia muito difícil. Agora, aliviado vai dormir, visto que o leite do filho está garantido. Ao deitar, um ruído intenso desperta-o – são ratos roendo o dinheiro do leiteiro. Esses ruídos, então, fazem com que Naziazeno não consiga dormir e passe a relembrar os detalhes daquele dia tão tumultuado e da dificuldade em conseguir o dinheiro para efetuar o pagamento. Lembra-se de que, pela manhã, bem cedo, todos os vizinhos, assistiram ao “pega” de Naziazeno com o leiteiro. Este cobra 53 mil réis de Naziazeno, dando-lhe um dia para o pagamento da dívida; sendo que, se isso não acontecesse, o fornecimento de leite seria cortado. Naziazeno, humilhado, entra em casa, seguido pela mulher que o recrimina pelo não pagamento ao leiteiro, já que o filho não poderia passar sem o leite. Isso porque Mainho estivera com princípio de meningite e necessitava de cuidados e de uma boa alimentação. Naziazeno discute com a esposa, dizendo que eles podiam muito bem passar sem a manteiga e sem o gelo, chamando esses produtos de supérfluos, já que ele, quando pequeno, muitas COOPVEST - Profª Daliana 8 vezes, só tinha para tomar água quente com açúcar. Toma café. Mas as palavras do leiteiro não lhe saem da cabeça. Bem cedo vai para a repartição. Enquanto aguardava o bonde, sente-se observado pelo Fraga, homem honesto e muito organizado. Teme cumprimentá-lo, envergonhado pela discussão com o leiteiro. Nesse momento, aproxima-se dele um vizinho, rapaz muito jovem que insiste em observar Naziazeno. Quando os olhares cruzam-se, o bonde chega. Naziazeno, então, sente-se aliviado. Entra no bonde, satisfeito, pois só há desconhecidos que nada sabem a seu respeito. Lembra-se sempre do leiteiro e do prazo. Lembra-se também do amanuense, seu vizinho, que sempre teve fama de não pagar a ninguém. Sente-se nessa situação também. Gostaria de ser como o amanuense e nem se preocupar. O bonde para de repente, visto que quase atropela duas crianças. O motorista, assustado, xinga. Naziazeno, por sua vez, está alheio a tudo – só o leiteiro e o prazo ocupam o seu pensamento. Precisa arrumar o dinheiro de qualquer forma. Lembra-se do Duque, o amigo “cavador” de dinheiro. Pensa procurá-lo nos cafés. Chega à cidade ainda muito cedo e resolve procurar por Duque. Sente-se outro, tem coragem, quer lutar. São oito horas. Duque, aquele que multiplica dinheiro, um gênio solitário, seu amigo, o corretor da miséria, é a sua primeira esperança de conseguir os 53 mil réis. Mas não o encontra nos lugares de costume. Pensa no chefe, o Dr. Romeiro, que já havia lhe emprestado o dinheiro (60 mil réis) para pagar ao médico que cuidara de Mainho quando da meningite. Naziazeno, de posse do dinheiro emprestado pelo patrão, não pagou ao médico e, ainda assim, só devolveu, após algum tempo, 53 mil réis ao chefe, ficando devendo-lhe 7 mil.. Caminha para a repartição e vê Cipriano no “49” do chefe. Imagina que o motorista deve ter ido buscar Dr. Romeiro, já que saiu com o carro velozmente. Entra, cumprimenta o Sr. Júlio e os seus colegas de sala. “Julgase em débito com os homens desde que vai ser salvo pela bondade dos homens.” Na sala pequena, trabalham, além de Naziazeno, mais dois homens: Horácio e Clementino: o primeiro escriturário e o segundo datilógrafo. O trabalho de Naziazeno é demorado e monótono, já que não há cobranças. Na função de escriturário, que lança os subtotais e totais, não se permitem falhas; e os valores devem estar sempre corretos; sendo assim, não há pressa para concluir o trabalho. Naziazeno não encontra o chefe na repartição. Ele estava na secretaria, e Cipriano tinha ido buscá-lo. Enquanto isso, Horácio prepara o café, e Clementino atende os telefonemas. O plano de Naziazeno começa a abalar. Nas primeiras dificuldades aparecidas, sua confiança cega esvai-se. Sai da repartição para procurar o Duque. Já sem dinheiro, espera encontrar alguém que lhe pague um café. Encontra Alcides Korand, um velho amigo e lhe expõe o problema. Este, preocupado, não teve como ajudá-lo no momento. Entram num café. Naziazeno fica observando um amigo, Justo Carvalho. Sente medo de fitá-lo. Quando este se levanta e vem em sua direção, Naziazeno sente um ligeiro mal estar. Cumprimentam-se, e Naziazeno dá graças a Deus por não estar só. Alcides e Naziazeno procuram Duque pelos cafés do Centro e não o encontram. No ímpeto de ajudar o amigo, Alcides propõe jogar no bicho. Jogam alguns vinténs. Naziazeno despede-se de Alcides, que o repreende, dizendo-lhe que Dr. Romeiro é um corrupto que está envolvido numa trama de desvio de verbas e que o escândalo está por estourar. Naziazeno não lhe dá “ouvidos” e volta à repartição, onde encontra o Dr. Romeiro nas obras, acompanhado pelo amigo Dr. Ritz e várias pessoas da repartição. Naziazeno interpela o chefe perto de todos os presentes e pedelhe o dinheiro. Humilha-se. O Dr Romeiro, secamente, responde-lhe: “O senhor pensa que eu tenho alguma fábrica de dinheiro? Quando seu filho esteve doente, eu o ajudei como pude. Não me peça mais nada. Não me encarregue de pagar as suas contas: já tenho as minhas, e é o que me basta...” Todos riem. Naziazeno, desesperado, sai da repartição e reencontra Alcides num café da cidade, esperando-o. Saem dali, e Alcides, que ainda não havia desistido de seu intento de ajudar o amigo, expõe a Naziazeno um novo plano. De acordo com seu plano, Naziazeno deveria ir à casa do Dr. Andrade cobrá-lo, em nome de Alcides, o valor de 100 mil réis – parte de uma transação da venda de um carro. Naziazeno, envergonhado, mas necessitando com urgência do dinheiro, topa. Procura o Dr. Andrade que mora na Rua Coronel Carvalho, 357; isso sem, ao menos, conhecê-lo.. Este o recebe e diz não dever nada a Alcides, pois a outra parte da transação cabia ao Sr. Ress, gerente do New York Bank. Naziazeno sente-se mal e é levado por Andrade para dentro da casa. Melhora, despede-se e pede-lhe desculpas. Cansado, humilhado, com fome, Naziazeno vai ao encontro de Alcides para contar o ocorrido. Não o encontra no lugar combinado. Então, toma COOPVEST - Profª Daliana 9 a iniciativa de procurar o Sr. Ress no banco. Acha estranho o seu comportamento, já que não costumava fazer algo por sua auto-recreação. Quando chega ao banco, arrepende-se, pois nada tem a ver com o negócio. Pergunta pelo Dr Ress e fica aliviado quando lhe responderam que o gerente havia viajado. Está com fome. Não tem dinheiro. Pensa em encontrar um amigo que lhe pague o almoço. Não encontra ninguém... Resolve, então, procurar um advogado seu amigo - o Dr Otávio Conti – e pedir-lhe dinheiro emprestado – 5 mil réis. Não quer que o encontro seja forçado, quer que o Dr. Otávio Conti o veja e o chame para conversar. Numa atitude estranha, Naziazeno passa inúmeras vezes pela porta do advogado pensando em encontrá-lo. Naziazeno passa a ser observado por uma pessoa que julga a sua atitude muito estranha. Naziazeno resolve sair do prédio e é perseguido pelo homem. Apavorado, Naziazeno dá de encontro com um homem baixo, que, por sorte, é seu conhecido; ele é o Costa Miranda a quem Naziazeno pede 5 mil réis para almoçar. Costa Miranda empresta-lhe o dinheiro, mas, em troca, faz Naziazeno de “garoto de recado”, pedindo-lhe que dê um recado a Alcides para que este pague a dívida a um agiota chamado Rocco, pois Costa Miranda foi avalista na transação, e o agiota vivia a cobrá-lo. Naziazeno, com o dinheiro no bolso, vai almoçar. Só que com intuito de multiplicar a grana, ele deixa de almoçar (apesar da fome) e entra numa casa de jogo clandestino. Naziazeno troca o dinheiro por fichas e, como havia prometido, joga o que tem no número 28. Ganha e guarda no bolso 10 mil réis. Começa a perder e é obrigado a recorrer às fichas que havia guardado. Recupera-se, jogando no número 17. Chega a ganhar 165 mil réis. Mas, com o decorrer da tarde, acaba perdendo tudo o que tem. Naziazeno sai do jogo com mais fome e com a tarde quase indo embora. Já eram cinco horas da tarde, e ele ainda não havia conseguido o dinheiro do leiteiro. Desanimado, já sem esperança, Naziazeno vai tentar um vale, mas não consegue. Na expectativa de que alguém lhe pague um café, por sorte, encontra Alcides que o chama e lhe dá um copo de leite (ironia - o problema era o leite de Mainho). Naziazeno sente-se humilhado, faminto, desanimado. Sua confiança já não existe mais. Nem no jogo de bicho ele ganhou. Tudo estava dando errado. Conta a Alcides sobre o Sr. Andrade e o restante da transação com Sr. Ress. Ainda dá a Alcides o recado de Costa Miranda sobre a cobrança do agiota. Alcides diz a Naziazeno que Duque está naquele café. As esperanças de Naziazeno reascendem-se. Duque está numa mesa no fundo do estabelecimento conversando com o Dr. Anacleto Mondina, advogado com quem Duque tem “negócios”. Duque é chamado pelo garçom para ir à mesa de Naziazeno que lhe conta sobre o prazo e o dinheiro que precisa para pagar ao leiteiro. Imediatamente, Duque, “o corretor” da miséria, começa a bolar uma forma de ajudar o amigo. Pede a Alcides que vá ao agiota Rocco e peça-lhe, em seu nome, o dinheiro emprestado. Enquanto isso, apresenta Naziazeno ao Dr Anacleto Mondina que se apieda daquele, mas que, infelizmente, não tem condições, no momento, de ajudá-lo. Alcides volta sem conseguir o dinheiro, Duque, acompanho de Naziazeno, sai do café indo à procura de dois agiotas, seus amigos. Fernandes, o primeiro, negalhe, pois já era muito tarde, e não havia dinheiro em caixa. Assunção, o segundo, também não tem o dinheiro para emprestar-lhe. Eram quase seis horas quando os dois, desanimados, chegaram ao café. Da cabeça brilhante do Duque, outra ideia surge. Pergunta a Alcides sobre o valioso anel que havia herdado do avô. Alcides diz a Duque que havia penhorado o anel, pois precisava de 180 mil réis. Duque e seus amigos saem do café e vão até a casa de Penhor, e esta já estava fechada. Alcides tira do bolso a cautela na qual há o telefone do Sr. Martinez, dono do Penhor. Telefona para ele que recebe os quatros amigos em sua casa e “topa” ir ao seu estabelecimento, e, mediante o pagamento da cautela, entregar o anel a Alcides. O Dr. Anacleto Mondina, interessadíssimo no anel de advogado, resolve pagar o penhor. O anel vale três vezes mais que o empenho. A ideia do Duque era de retirar o anel do penhor; levá-lo a outra casa destas; penhorá-lo por 400 mil réis; devolver 180 ao Dr. Anacleto Mondina, e o restante dividir entre eles. Já passam das seis horas e não há mais nada aberto. Resolvem, então, procurar o Sr. Dupasquier, dono de uma joalheria, para mostrar-lhe o anel, e este fica interessado. Oferece 400 mil réis, mas para a compra e não para penhor. Alcides, ofendido, toma-lhe o anel, e os quatros saem do estabelecimento. Voltam ao café desanimado. Mas, para Duque, ainda resta uma esperança. Esta reside no Dr. Anacleto Mondina. Duque propõe o seguinte: Anacleto ficaria com o anel como garantia; adiantar-lhe-iam mais 120 mil réis; e se, no dia seguinte, eles não lhe pagassem os 300 mil réis; ele ficaria com o anel. Ambicioso, doido com o anel que ainda não tinha, tirou do bolso 200 mil réis que Duque empenhou-se rapidamente em trocar e dividir. Devolveu 80 mil réis ao advogado (que negou ajudar Naziazeno por não ter dinheiro – que ironia!!) deu 65 mil réis a Naziazeno (o inútil, o dependente), e o restante dividiu entre ele e Alcides. COOPVEST - Profª Daliana 10 Já é tarde quando volta a casa. Passa em um armazém, compra manteiga e um bom pedaço de queijo holandês. Entra no bonde, está todo moído. Recordam-se de vários momentos daquele longo dia. Já são quase nove horas. Desce do bonde a algumas quadras de sua casa. Vai ao sapateiro, pega o pé de sapato de sua esposa. Entra numa loja à procura de um brinquedo para Mainho. Só encontra pequenos animais para criança coçar a gengiva, mas mesmo assim resolve levá-los. São dois leõezinhos de borracha que apitam. Chega a casa. A mulher vem recebê-lo; fica vermelha; parece remoçar quando o marido entrega a ela a manteiga, o queijo e o sapato. Naziazeno pergunta pelo filho que está dormindo. Lava-se. Está barbudo e com muita fome. Senta-se para comer, lembra-se da cena e da compra dos leõezinhos. Pede a esposa para buscar uma garrafa de vinho. Janta, toma o vinho, come uma fatia de queijo e resolve deixar o dinheiro sobre a mesa debaixo da vasilha de leite. Vem o medo, o receio do vento, os cuidados com o dinheiro. Lembra do sacrifício para consegui-lo, mas não consegue dormir. Vira-se de várias posições. Na cama, sentindo frio, levanta o corpo, ouve o bonde, espera o ruído, a volta do bonde. O relógio do vizinho a bater os quartos de hora. Está com insônia; vê e imagina coisas. Pensa em procurar o Dr. Mondina e arranjar um biscate. Fica divagando, não consegue dormir. Está com o corpo moído, doente e sente muito frio. O corpo pesado não o deixa sair da cama. Ouve um chiado, amorfo, unido e um respirar cadenciado. São ratos, muitos ratos a roerem todo o seu dinheiro. A esposa dorme; está alheia a tudo; parece morta. Cessa o ruído. Torna a ver o dinheiro sobre a mesa. Tem dúvidas sobre o fato de ratos subirem à mesa. Os ratos estão roendo ali na cozinha; na mesa; são dois; são três; andam daqui, giram, dançam, infatigáveis. Está com sono. É preciso reagir. Acordar a esposa e perguntar-lhe se rato rói dinheiro. Ela, com certeza, responder-lhe-á que rato rói papel e que dinheiro é papel. Então.... Não consegue dormir. O ruído cessa. O dia está amanhecendo. Naziazeno escuta um barulho intenso e percebe que a porta da cozinha está sendo aberta. É o leiteiro. Expectativa. De repente, ouve um barulho festivo do leite na vasilha. Sendo assim, Naziazeno consegue dormir, pois o que vira era o fruto de sua imaginação diante das dificuldades e da forma como conseguira o dinheiro. EXERCÍCIOS 01. Todos os aspectos de Os Ratos de Dyonélio Machado, servem como justificativa para o título dado ao texto, EXCETO: a) Atenta para a invasão de ratos que ocorrem do protagonista durante a noite de insônia do mesmo. b) Faz refer6encia às doenças e aos problemas sociais do país. c) Metaforiza o processo de desumanização por que passa o protagonista e seus aliados. d) Conota o caráter medíocre e tacanho do protagonista e de seus familiares. 02. Todas as afirmativas sobre Os Ratos, de Dyonélio Machado, estão corretas, EXCETO: a) A obra fundamenta-se em uma estrutura circular, a qual expõe a necessidade de sobrevivência do protagonista durante um dia. b) A desumanização é uma das chaves de leitura do romance. c) A utilização das cores amarelo e branco correspondem às fontes de opressão por que passa Naziazeno. d) No romance, não é possível constatar um trabalho voltado para a sondagem psicológica. 03. Sobre a linguagem do romance Os Ratos, é CORRETO afirmar: a) O uso do diminutivo sugere um processo de infantilização de Naziazeno. b) A repetição de termos é uma forma de revelar vícios de fala do protagonista. c) Há o predomínio da linguagem falada. d) A recorrência dos parênteses ampla dados sobre personagens. 04. São características específicas de Naziazeno, EXCETO: a) a arrogância b) o caráter sistemático c) o perfil retraído COOPVEST - Profª Daliana 11 d) a timidez 05. Tendo em vista o romance Os ratos, de Dyonélio Machado. Assinale a alternativa INCORRETA: a) O espaço doméstico funciona como lugar de descanso e aconchego, como também, o local dos infindáveis devaneios do protagonista. b) O tempo cronológico é utilizado na organização textual. c) O narrador de 1ª pessoa imprime uma visão particular dos demais personagens. d) Os personagens, como seus sentimentos e reações, remontam a um amplo quadro social 06. Sobre os personagens da trama de Os Ratos, é correto afirmar, EXCETO: a) Alcides, melhor amigo de Naziazeno, coloca o anel da família em jogo para conseguir empréstimos. b) É através do contato com Duque, Mondina e Alcides que Naziazeno passa a ter coragem para procurar agiotas. c) Costa Miranda, conhecido de Naziazeno, empresta-lhe cinco mil réis. d) Mainho, filho do protagonista, contrai meningite e morre. 07. Assinale a alternativa em que NÃO se associou corretamente a descrição, extraída do romance Os Ratos, ao personagem descrito: a) “A onda de calor foge progressivamente do seu rosto (...) tem a impressão de haver mergulhado a face na água fria. Acha-se um pouco trêmulo.” (Naziazeno) b) ‘...encolhida e apavorada é uma comissão pública da miséria humilhada, sem dignidade da sua miséria.”(Adelaide) c) ‘...tem um ar de decisão e de insolência, encostado ao balcão, falando com os outros, gesticulando...” d) “...tem o rosto escanhoado, a camisa limpa. A palavra possui um tom educado, de pessoa que convive com gente inteligente, causeuse.”(Diretor) 08. Em relação ao enredo de Os ratos, só NÃO se pode afirmar que: a) Não conseguindo o empréstimo, o protagonista sofre ação de despejo. b) Alcides pede a Naziazeno para prestar contas antigas com Andrade a quem emprestaria dinheiro. c) O diretor de Naziazeno na repartição nega-lhe ajuda financeira. d) O leiteiro exige o pagamento de cinquenta e três mil réis a Naziazeno, impondo-lhe apenas um dia para a quitação da mesma. 09. Todas as passagens abaixo, extraídas do romance Os Ratos, apresentam animalização das personagens, EXCETO: a) “Metido o focinho dentro do guichê, Duque confabula, confabula” b) “Seu focinho perdeu aquela expressão neutra e mansa: um ar de concentração- de decisão- o envolve como que de uma chama morna...” c) “Naziazeno “vê-se” no meio da sala, atônito, sozinho, olhando pra os lados, pra todos aqueles fugitivos, que se esgueiram, que se somem com pés de ratos...” d) “Ele vê os ratos em cima da mesa, tirando de cada lado do dinheiro- da presa!- roendo-o, arrastando-o. 10. (UFMG) - Assinale a alternativa INCORRETA em relação ao protagonista de Os Ratos: a) O prazo para o resgate de sua dívida contraída com o leiteiro é de apenas um dia. b) Sua busca pelo dinheiro vai se tornando cada vez mais uma obsessão em sua mente. c) No desfecho da história, fica nítido o fim definitivo de todos os seus problemas. d) Com o auxilio de alguns amigos, consegue quitar a sua dívida. 11. (UFMG) - NÃO se verifica na estrutura de Os Ratos a) Linearidade narrativa b) Recorrência do flash-back. COOPVEST - Profª Daliana 12 c) Utilização do discurso direto. d) Uso de coloquialismo. 12. (UFMG) - O uso do discurso indireto livre (fusão da voz narrativa com a da personagem) é uma presença constante, do decorrer de Os Ratos; como evidenciam todas as passagens abaixo, extraídas dessa obra, EXCETO: a) “Um dia tinham tido um susto: faltava conferir um páreo, o primeiro do jogo. Alcides começara por longe, pelo último: Macau! Tinha acertado um! E se dá?... Um turbilhão encheu-se a cabeça. Vamos ver! Vamos ser! O outro!” b) “Naziazeno bem que sentaria. Quem sabe?... talvez haja um conhecido nalguma mesa... Olha!... lá no fundo!... o Carvalho... Mas desvia vivamente a cara, faz que não vê o Carvalho. c) “E todo o resto também mudou... O Andrade habita uma daquelas casinhas iguais – talvez a terceira”. d) “Naziazeno vê-se no meio da sala, atônito, sozinho olhando pra os lados, para todos aqueles fugitivos, que se esgueiram, que se somem com seus pés de ratos...” 13. (UFMG) - Apesar de o narrador de Os Ratos manter um certo distanciamento do objeto narrado, por vezes ele transcende o limite que o separa do espaço psicológico dos personagens, recorrendo a recursos formais, no texto, como o uso do itálico em termos que quer enfatizar como expressão-chave dentro do discurso. Em todas as alternativas, as expressões em itálico foram utilizadas essencialmente com essa intenção, EXCETO em: a) O sujeito os livros – um rapaz novo com uma voz de mambira – descobre uma pilha ao lado, que uma espécie de toalha grande dissimulava: - Não querem livros de gênero livre? Temos aqui Rabelais... (Ra-be-la-is...)  Minha Esposa e Seus Amantes... b) Naziazeno tem medo que lhe leiam na cara essa compreensão de tudo , essa inteligência das coisas, miserável e aviltante, que tem, por exemplo, o Duque. c) Ele olha muito, ouve muito, aparece muito, más só diz uma ou outra coisa, só o necessário, e o viável. d) Solucionará tudo, porque – é o seu feitio o seu mal – ele faz (desta vez, como de outra) desde negócio – o ponto único, exclusivo, o tudo concentrado da sua vida. 14. (UFMG) - Assinale o comentário INCORRETO sobre Os Ratos: a) O espaço, na narrativa, é substancialmente circunscrito à área urbana de uma cidade que, embora facilmente identificável, não chega a ser nomeada. b) A pouca capacidade do protagonista de se relacionar com as pessoas e com a realidade expressa-se também na sua interação com o dinheiro. c) No drama vivido em um dia pelo protagonista, o dinheiro adquire um valor simbólico, capaz de exprimir a colocação social e de gênero das pessoas. d) A narrativa desenvolve-se apenas pela ótica da introspecção, distanciado-se conseqüentemente, de fatores associados aos contextos históricos, sociais e político. 15. (UFMG) - A composição de Os Ratos NÃO apresenta: a) Passagens caracterizadas por intensas ironia e humor acentuado. b) Linguagem concisa e objetiva, ausente de rebuscamentos verbais. c) Ponto de vista concentrado na terceira pessoa. d) Personagens pertencentes à esfera marginalizada. 16. (UFMG) - Todas as considerações abaixo em relação a Os Ratos podem ser comprovadas pela leitura da obra, EXCETO: a) No decorrer da narrativa, vai-se evidenciando que, ironicamente, a aquisição do dinheiro não é vista como produto natural de um trabalho, mas como fruto – fruto amargo e penoso – de uma rede de pedidos e favores. COOPVEST - Profª Daliana 13 b) A cena urbana dos 30 anos, montada na novela, é ocupada por uma história que não consegue assumir um perfil mais abrangente, uma vez que fica restrita ao caso individual, afastando-se, ideologicamente, de uma situação social mais ampla. c) O protagonista, endividado, sofre uma dupla humilhação: a causada pelo credor e a que sente frente à mulher, pois toda a sua respeitabilidade de homem e de marido relaciona-se com a capacidade de manutenção da família. d) A trama da narrativa traz à tona uma rede de economia informal especificamente urbana, em que circulam indivíduos mais ou menos marginais ao mercado formal do trabalho, vivendo exclusiva ou acessoriamente do trabalho ocasional. 17. (UFMG) - Em sua desenfreada busca pelo dinheiro, o protagonista de Os Ratos investe nas mais variadas possibilidades, para resgatar sua dívida com o leiteiro, EXCETO: a) Ir à procura de amigos que vivem de “arranjos” e/ou negócios informais. b) Apelar para a generosidade do seu chefe, pedindo lhe um empréstimo. c) Tentar a sorte na roleta e no jogo do bicho. d) Penhorar seu único bem: antigo relógio herdado de sue avô. 18. (UFMG) - A leitura de Os Ratos permite inferir que o título dessa obra. a) Apresenta-se como uma metáfora dos marginalizados. b) Relaciona-se com o final da narrativa. c) Restringe-se somente à sua literatura. d) Estabelece-se como uma ironia da condição humana. 19. (UFMG) - Leia o trecho abaixo, extraído de Os Ratos.   Aquele repouso convida-o a sentar. Um cafezinho?... São dois tostões, a bem dizer metade de suas disponibilidade. É necessário prudência. Ele bem sabe o valor de dois tostões numa situação assim. Sente-se outro, tem coragem, quer lutar.longe do bonde (que é um prolongamento do bairro e da casa) não tem mais a morrinha daquelas idéias... Naquele ambiente comercial e de bolsa de mercado, quantos lutadores como ele!... Sente-se em companhia, membro lícito de uma legião natural. Levando-se em consideração o trecho transcrito, NÃO se pode depreender que: a) O protagonista, Naziazeno Barbosa, ao refletir sobre o preço do cafezinho, mostra-se conhecedor das relações entre as coisas e o dinheiro. b) O termo “lutadores”, que aparece em itálico, metaforicamente remte à condição daqueles que labutam obstinadamente pela sobrevivência. c) O momento de repouso se liga ao descanso e ao distanciamento eficaz e efetivo das preocupações financeiras que o afligem. d) A casa, o bairro onde mora e o transporte cotidiano são espaço nos quais o protagonista normalmente depara com preocupação e desafetos. 20. Considere as seguintes afirmações acerca de Os ratos, de Dyonélio Machado: I – A obra tem como protagonista o pequeno funcionário público Naziazeno Barbosa e narra uma ação que dura 24 horas. II – Seguindo a tendência de grande parte da prosa ficcional produzida na década de 1930, o romance conta uma história ambientada no espaço rural. III – Embora o protagonista consiga saldar a dívida contraída com o leiteiro, sua situação de penúria não se altera no desfecho, o que evidencia a impotência do herói diante da engrenagem social. Apenas está correto o que se afirma em a) I. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) I, II e III. COOPVEST - Profª Daliana 14 21 - O romance Os ratos é representante da ficção brasileira dos anos 30, cujas principais características são: a) análise psicológica, idealização da paisagem, focalização nos tipos humanos universais. b) análise sociológica, predomínio de temas históricos, presença de personagens caricaturais. c) análise da relação entre homem e natureza, predominância de enredos rurais, construção de personagens heróicas. d) análise das tensões entre indivíduo e meio social, tendência a enredos realistas, propensão para personagens anti-heróicas. e) análise dos determinismos no comportamento humano, predomínio de temas psicológicos envolvendo a vida sexual, criação de personagens doentios. 22 - Leia o trecho: A mulher havia-se sentado defronte dele, enquanto ele toma o café. – Vai nos deixar ainda sem leite... Assinale a alternativa que substitui o discurso direto pelo discurso indireto, sem que ocorram infrações da norma culta. a) A mulher lhe disse que o leiteiro ainda iria deixá-los sem leite. b) A mulher o disse que o leiteiro ainda lhes irá deixar sem leite. c) A mulher diz-lhe que o leiteiro ainda deixaria eles sem leite. d) A mulher nos disse que o leiteiro lhes deixaria sem leite. e) A mulher disse-lhe que o leiteiro ainda nos deixará sem leite. 23 - Com relação ao romance Os Ratos, de Dyonélio Machado, é correto afirmar que Naziazeno Barbosa é a) um pai de família empenhado em ampliar seu patrimônio mediante empréstimos assumidos junto a comerciantes e bancos. b) um funcionário público mal-remunerado que tenta saldar sua dívida com um leiteiro mediante pedidos e empréstimos mais ou menos escusos. c) um pai de família acossado por dúvidas quanto à fidelidade de sua esposa e por dívidas assumidas em noites de jogatina e devassidão. d) um funcionário público cujas economias minguaram depois que se envolveu com boêmios seresteiros,  jogadores e prostitutas do centro de Porto Alegre. e) um pai de família cujo filho doente e mulher ciumenta exigem dele dedicação absoluta, o que o impede de realizar sua vocação de escritor. 24 - Considere as seguintes afirmações a propósito de Os Ratos, de Dyonélio Machado: I. Narra um dia de tensão e profunda angústia na vida de um funcionário público que tenta, de vários modos, obter dinheiro para saldar uma dívida junto ao leiteiro, que já ameaçara cortar o fornecimento do produto. II. Embora narrado em terceira pessoa, o romance privilegia o ângulo de visão do personagem principal, Naziazeno, em sua peregrinação pela cidade. III. No desfecho da narrativa, os ratos simbolizam os sentimentos do protagonista numa metáfora que abrange o personagem principal e quaisquer outros indivíduos de situação social semelhante. Quais são CORRETAS? a) Apenas I b) Apenas III c) Apenas I e III d) Apenas II e III e) I, II e III 25. Todas as alternativas apresentam passagens de Os ratos, de Dyonelio Machado, que podem ser interpretadas como antecipação do clímax que ocorre ao final do livro, EXCETO: a) Naziazeno se vê no meio da sala [da repartição], atônito, sozinho, olhando pra os lados, pra todos aqueles fugitivos, que se esgueiram, que se somem com pés de ratos... COOPVEST - Profª Daliana 15 b) Os jogadores estão mais uma vez na sua ocupação, com o seu silêncio, os seus passos surdos polvilhados daquele crepitar fininho... c) A mão, mergulhada dentro do bolso da calça, ainda segura o dinheiro. [...] Seus dedos estão ficando suados. Abre então a mão, e retira-a aberta e com precaução, para que não haja perigo dela arrastá-lo para fora e o dinheiro cair, perder-se. d) Caras que vão e vêm. Quase todas, ao passar, põem os olhos nele. Na maioria são caras paradas, tranqüilas à força de estagnadas. Os casacos são surrados. 26. Sobre “OS RATOS” é correto afirmar que: a) Os ratos constituem uma metáfora dos vários personagens insignificantes que povoam a obra, e isso fica evidente no último capítulo do livro. b) O delírio noturno provocado pelo roer dos ratos estende-se à realidade do protagonista, que, ao acordar, percebe que o dinheiro não mais existe, iniciando-se assim uma nova procura. c) A inquietação do protagonista, despertada pelo roer incessante dos ratos, representa a angústia de um homem vitimado pelas exigências da sobrevivência em um cotidiano medíocre. d) As diferenças entre o roer de várias madeiras revela a certeza de que o dinheiro estava a salvo dos ratos. 27. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito de OS RATOS, de Dyonélio Machado. a) O protagonista, Naziazeno, é funcionário público perturbado pela falta de dinheiro. b) O protagonista dispõe de 24 horas para saldar a conta com o leiteiro. c) O enredo recompõe traços do cotidiano citadino das primeiras décadas do século. d) A ação narrada focaliza a indiferença da sociedade pelo sofrimento do indivíduo. e) O desfecho é frustrante, pois Naziazeno não arranja dinheiro para saldar a dívida. 28. Assinale a alternativa que NÃO corresponde à obra OS RATOS: a) O discurso literário recria, de forma tensa, o processo de coisificação e marginalização que os personagens vivem. b) A obra enfoca o estado de fixação das personagens em questões de foro pessoal, caracterizando-se por meio de associações livres, quebra da linearidade do pensamento e anulamento da condição humana. c) O monólogo interior e o fluxo de consciência são duas técnicas literárias utilizadas na obra com a finalidade de representar o estado mental de confusão e insegurança das personagens. d) As obra apresenta explicitamente o ser humano como resultado da ação de um processo econômico e social movido pela conjuntura financeira. 29. Assinale a opção que NÃO diz respeito à construção da obra OS RATOS: a) O tempo psicológico se sobrepõe ao tempo cronológico, ampliando a dimensão trágica na construção das personagens. b) O protagonista tem a necessidade de submeter-se à voz e ao olhar do outro, recebendo sua sanção e sentindose, desse modo, melhor aceito no espaço social. c) As visões de mundo representadas pelo narrador sinalizam certo grau de confiança e segurança no futuro diante das provações e injustiças vividas no presente. d) A linguagem utilizada possui um tom coloquial e despojado, ocupada com a representação de miudezas do cotidiano. 30. Sobre “OS RATOS” é correto afirmar, EXCETO: a) Naziazeno passa por um processo de infantilização, ou seja, passa a ser manipulado pelos amigos. b) A obra apresenta estrutura circular. Sendo assim, Naziazeno, em sua via-crúcis, vê-se envolvido por vários objetos e seres de forma redonda. c) A obra apresenta um final feliz, visto que Naziazeno consegue o dinheiro para pagar ao leiteiro. d) Adelaide, única personagem feminina da obra, não pode ser enquadrada no universo de “os ratos”. COOPVEST - Profª Daliana 16 31. O nome “NAZIAZENO” escolhido para o protagonista dos dramas de “OS RATOS” deve-se ao fato de que: a) Origina-se de Nazário, ou seja, aquele que não tem sorte. b) Origina-se de Nazário mais Heleno, ou seja, um ser vitorioso. c) Origina-se de Nazaré, ou seja, aquele que tem uma missão. d) Origina-se de Nazaré, numa referência intertextual com Jesus de Nazaré em sua peregrinação. 32. Sobre a obra “OS RATOS” pode-se afirmar: a) Apresenta uma abordagem filosófica e científica do homem, comparando este a um rato, devido ao fato de que o ser humano vive às escondidas. b) Apresenta uma crítica social, visto que compara o homem ao rato, devido ao fato de que esse ser comportase – age como um rato, ou seja, às escondidas. c) Apresenta uma abordagem científica, visto que o autor da obra é um psiquiatra. d) Apresenta uma visão idílica, visto que demonstra as dificuldades do homem no dia a dia e o triunfo do homem frente às adversidades. 33. Sobre as características da obra “OS RATOS”, pode-se observar, EXCETO: a) O discurso predominante na obra é o indireto livre. b) Apresenta a zoomorfização do homem, que é comparado a um rato. c) Há monólogos interiores e fluxo de consciência que permitem ao leitor conhecer a índole das personagens. d) A abordagem central da obra é o comodismo, visto que Naziazeno e seus amigos são meros instrumentos do Capitalismo. 34. Pode-se observar na estrutura de “OS RATOS”, EXCETO: a) Naziazeno é conduzido à reificação, ou seja, é conduzido pelas coisas do mundo, principalmente pelo dinheiro. b) Há uma grande proximidade entre o narrador e as personagens. c) Os heróis da obra não são esteriotipados, visto que perdem as dimensões da legenda e descem às murchas proporções dessas pequenas vidas. d) O autor, por ter um estilo conciso e econômico, não faz uso da repetição nem das reticências. 35. Sobre a obra “OS RATOS”, pode-se afirmar, EXCETO: a) O estilo é seco. b) A frase é concisa, econômica, substantiva c) A voz do narrador não se silencia, o que leva o leitor a observar as opiniões e tirar suas conclusões a respeito da obra. d) O leitor assiste ao desenrolar dos fatos, como se estes fossem projetados numa tela de cinema. 36. Considerando a leitura de Os Ratos, assinale a(s) proposição(ões) correta(s). (001) O conflito aparente que cria a tensão, no romance em questão, é a ameaça, por parte do leiteiro, de cortar o fornecimento de leite para a família de Naziazeno Barbosa, caso este não lhe pague o que lhe é devido. (002) Naziazeno se move olhando o mundo ao seu redor, baseado nas impressões que a aparência das coisas e das pessoas lhe sugere, como no caso do sujeito que ele observa no cassino: “Aquele sujeito, o ar decidido, dá volta à mesa, o cigarro pendente do beiço, a cara tranqüila, talvez satisfeita, fazendo o jogo. As fichas caem uma a uma da pilha que tem na mão, entre os dedos em cone, como um pacote de bolachinhas que se desfez. Quando parece ter acabado a operação, espalha o olhar sobre os números, abrangendo tudo. Depois, com um movimento vivo e brusco do corpo, chega-se à mesa, - e o pacote de bolachinhas se desfaz mais uma vez. Novo olhar, novas fichas, novo ‘retoque’. ‘- Esse sujeito deve ser um folgado’ – observa Naziazeno para si.”. (004) A cidade por onde circula Naziazeno é um território em que a materialidade das coisas é substituída por impressões, por linhas que se desmancham, por espectros de luz que se metamorfoseiam conforme o ânimo do protagonista. Tudo são aparências num jogo de sobrevivência. COOPVEST - Profª Daliana 17 (008) A mulher de Naziazeno, Adelaide, ao perceber a indecisão do marido, põe-se a campo para angariar o dinheiro devido ao leiteiro, esgueirando-se pelas ruas onde estão localizados os prostíbulos da cidade. (016) As impressões projetadas por Naziazeno ao longo do romance, são pistas oferecidas pelo narrador ao leitor para uma possível identificação do desfecho da narrativa. Por isso, quando o protagonista, já com o dinheiro do leiteiro e deitado em sua cama, ouve “uns ruidozinhos, um como que crepitar de mandibulazinhas de insetos”, o leitor depara-se com a possibilidade (aterradora) de todo o esforço de Naziazeno ter sido em vão, e os ratos comerem o dinheiro do leite. 37. Para responder a essa questão, leia o texto que segue e analise as afirmativas abaixo sobre a obra Os ratos , de Dyonélio Machado, a que pertence o texto. I. O espaço em que se desenvolve a narrativa é Porto Alegre. II. A ação se dese@ COOPVEST - Profª Daliana 18       ýïð8@âÎö4 horas de um dia da vida de Naziazeno. III. O drama central da personagem é a falta de dinheiro para pagar a conta do leite. IV. No episódio apresentado, Naziazeno, personagem central, revela toda a sua angústia diante da possibilidade de os roedores estarem dentro de sua casa. Pela análise das afirmativas, conclui-se que está correta a alternativa a) I e II b) I, II e III c) I, II, III e IV d) II e IV e) III e IV 38. Dos elementos abaixo mencionados, aquele que está presente na obra Os ratos, de Dyonélio Machado, é: a) o narrador protagonista b) as agruras enfrentadas no cotidiano pela pequena classe média c) a situação dos trabalhadores rurais da região da Campanha d) a crítica ao regime autoritário instaurado no Brasil em 1964 e) a história com duração de 24 meses 39. (UFRGS 2007) Assinale com V (verdadeiro) e F (falso) as afirmações abaixo, referentes ao romance Os Ratos, de Dyonélio Machado. ( ) O romance relata uma dia da vida do funcionário público Naziazeno, projetando neste dia, simbolicamente, toda a sua existência, pautada pela falta de perspectivas de sair da condição de miséria material e moral em que ele vive. ( ) A narrativa faz parte do conjunto dos romances de 30, aqueles cuja ação se desenvolve no espaço urbano, focalizando, através do protagonista, a luta pela sobrevivência da pequena classe média e a coisificação do ser humano. ( ) O protagonista demonstra, no seu discurso, ter uma visão crítica da sociedade em que vive e das causas de sua própria precariedade material e espiritual. ( ) Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa, em que o narrador-protagonista rememora as dificuldades por que passou para obter um empréstimo e pagar as suas dívidas. A seqüência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V - V - F - F. b) F - F - V - V. c) V - F - V - F. d) F - V - F - V. e) F - F - F - V. 40 - Para responder a essa questão, leia o texto que segue. Vai dormir... vai dormir...(...) Um rufar — um pequeno rufar — por sobre a esfera do chiado, no forro... Ratos... são ratos! Naziazeno quer distinguir bem... Atenção. O pequeno rufar — um dedilhar leve — perde-se para um dos cantos do forro... Ele se põe a escutar agudamente. Um esforço para afastar aquele conjunto amorfo de ruidozinhos, aquele chiado... Lá está, num canto, no chão, o guinchinho, feito de várias notinhas geminadas, fininhas... São os ratos!... Vai escutar com atenção, a respiração meio parada. Hão de ser muitos: há várias fontes daquele guinchinho, e de quando em quando, no forro, em vários pontos, o rufar... A casa está cheia de ratos...(...) Há um roer ali perto...Que é que estarão comendo? (...) Os ratos vão roer — já roeram! — todo o dinheiro!... Analise as afirmativas que seguem sobre a obra Os Ratos, de Dyonélio Machado, a que pertence o texto. I. O espaço em que se desenvolve a narrativa é Porto Alegre. II. A ação se desenvolve durante 24 horas de um dia da vida de Naziazeno. III. O drama central da personagem é a falta de dinheiro para pagar a conta do leite. IV. No episódio apresentado, Naziazeno, personagem central, revela toda a sua angústia diante da possibilidade de os roedores estarem dentro de sua casa. Pela análise das afirmativas, conclui-se que está correta a alternativa a) I e II b) I, II e III c) I, II, III e IV d) II e IV e) III e IV COOPVEST - Profª Daliana 19 41. Sobre Os Ratos, de Dyonélio Machado, é correto afirmar que: a) é possível perceber uma “tendência kafkiana”, em sua narrativa, ao colocar em relevo o que há de absurdo e desumano na realidade individual e social dos homens. b) Naziazeno, protagonista da obra, é um sujeito atormentado por não conseguir acertar as contas com o açougueiro, que já ameaçara cortar o fornecimento de carne. c) Adelaide, mulher de Naziazeno, também tenta encontrar meios para pagar a dívida. d) quando Naziazeno esteve com o filho doente, também foi com os agiotas que conseguiu dinheiro para comprar os remédios da criança. e) Naziazeno, embora estivesse numa difícil situação financeira, não perdia a postura aristocrática que herdara do pai. 42. O romance Os Ratos, de Dyonélio Machado, foi publicado em 1934 e é considerado uma obra-prima da literatura brasileira. Sobre ele, é correto afirmar que (001) o desenvolvimento da ação se dá aos poucos, mostrando ao leitor uma imagem de cotidiano voltada para a sobrevivência material, aumentando a ansiedade de Naziazeno quanto à solução de seu problema – saldar a dívida para com o leiteiro. (002) no exemplo: “Estão chegando. Ele se adianta. Tira uma chave. Mete na fechadura. A porta cede, e ele entra.”, as frases curtas indicam um automatismo nas ações, ao mesmo tempo em que concorrem para um efeito cinematográfico, como se fossem “tomadas” fílmicas cortadas abruptamente. (004) a crítica social que perpassa a narrativa decorre de uma visão de mundo do autor, centrada nas distorções às quais o sistema capitalista submete o ser humano e que, no romance, são mediadas pelas ações dos personagens e por sua luta pela sobrevivência no dia-a-dia. (008) a certeza de que será recebido pelo diretor da repartição pública em que trabalha e que conseguirá o empréstimo necessário, faz com Naziazeno Barbosa sinta-se entusiasmado com seu trabalho ordenado e sistemático, comparando o seu funcionamento à exatidão de uma máquina bem lubrificada. (016) o desespero existencial e material de Naziazeno é materializado no romance na última cena, quando os ratos roem todo o dinheiro que ele tentara conseguir durante todo o dia, levando o personagem à loucura. 43. Leia o seguinte excerto de Os Ratos, de Dyonélio Machado. "Está exausto... Tem vontade de se entregar, naquela luta que vem sustentando, sustentando... Quereria dormir. Aliás, esse frio amargo e triste que lhe vem das vísceras, que lhe sobe de dentro de si, produz-lhe sempre uma sensação de sono, uma necessidade de anulação, de aniquilamento... Quereria dormir..." Considere o enunciado abaixo e as três propostas para completá-lo. O desânimo de Naziazeno, protagonista de Os Ratos, é decorrente: 1 - da convicção de que a luta de um dia inteiro é a continuidade de uma condição angustiante, diuturnamente vivida, e sem perspectivas de transformação. 2 - da falta de melhor oportunidade profissional, que o faz consumir o dia todo em busca de alternativas de trabalho, sem que surja alguma possibilidade nova. 3 - do desgaste físico empreendido na busca de empréstimo para pagar a mensalidade ao leiteiro e da frustração por não ter obtido a quantia mínima necessária. Quais propostas estão corretas? a) Apenas 1. b) Apenas 1 e 2. c) Apenas 1 e 3. d) Apenas 2 e 3. e) 1,2 e 3. 44. O romance Os ratos, de Dyonélio Machado, publicado em 1935, é visto pela crítica como um exemplo da “arte pobre”, entendida como a “poética da linguagem reduzida”. Considerando esse ponto de vista, é correto afirmar que (001) há no romance Os ratos uma apresentação compartimentada dos episódios, tornando-os independentes uns dos outros ao mesmo tempo em que há a possibilidade de interligá-los pela disposição de Naziazeno para resolver seu problema financeiro. (002) o modo de narrar encontra no realismo minucioso e descritivo de personagens, ações e espaço, sem qualquer alteração no fluxo contínuo da narrativa, a demonstração perfeita dessa poética reducionista. COOPVEST - Profª Daliana 20 (004) a redução diz respeito à capacidade de transformação do “mundo miúdo” de Naziazeno na obsessão essencialmente prática do personagem em arrumar dinheiro para pagar o leiteiro. (008) o ataque dos ratos ao dinheiro, que Naziazeno havia deixado sobre a mesa para que o leiteiro pegasse, revela o ambiente de pobreza em que a família vivia e a situação de boa parte da população brasileira na década de 1930. (016) a narrativa que se auto-apresenta por meio de frases concisas e substantivas e o pensamento dos personagens revelados pelo discurso indireto livre são marcas da literatura contemporânea atualizadas pela poética da linguagem reduzida. 45. Leia a seguir o primeiro parágrafo do romance Os ratos, de Dyonélio Machado, e assinale o que for correto. “Os bem vizinhos de Naziazeno Barbosa assistem ao ‘pega’ com o leiteiro. Por detrás das cercas, mudos, com a mulher e um que outro filho espantado já de pé àquela hora, ouvem. Todos aqueles quintais conhecidos têm o mesmo silêncio. Noutras ocasiões, quando era apenas a ‘briga’ com a mulher, esta, como um último desaforo de vítima, dizia-lhe: ‘Olha, que os vizinhos estão ouvindo’. Depois, à hora da saída, eram aquelas caras curiosas às janelas, com os olhos fitos nele, enquanto ele cumprimentava.” 01) O excerto levanta traços da personalidade de Naziazeno que perpassarão todo o romance: a autosuficiência e a indiferença quanto à avaliação dos outros. O malandro Naziazeno não se incomoda com o julgamento moral dos vizinhos, tanto assim que os cumprimenta naturalmente: “os olhos fitos nele, enquanto ele cumprimentava”. 02) Trata-se do momento em que o leiteiro ameaça interromper o fornecimento de leite para a família de Naziazeno Barbosa por falta de pagamento. Tal ameaça deflagrará a busca desesperada de Naziazeno para conseguir o dinheiro que propiciará não só saldar a dívida, como também reconstruir sua autoestima e imagem de bom pai de família. 04) Os “bem vizinhos” que assistem à discussão entre o vizinho e o leiteiro, com aquelas “caras curiosas” a espreitar o desentendimento, são amigos verdadeiros de Naziazeno, prontos para protegê-lo. O perfil solidário do povo brasileiro confere ao romance um tom nacionalista e patriota. 08) O texto levanta o cotidiano de pessoas desocupadas e desordeiras. O “pega” com o leiteiro e a “briga” com o marido consistem em cenas ilustrativas do tema que caracteriza Os ratos: a violência doméstica. 16) O fragmento focaliza as classes sociais menos favorecidas (os moradores de periferia de uma cidade grande) com o objetivo de denunciar a exploração econômica da classe trabalhadora já nas primeiras décadas do século XX. A conscientização de Naziazeno quanto à sua condição de explorado o leva a rebelar-se contra estruturas sociais vigentes com o fim de promover a igualdade social dos “ratos”, ou seja, daqueles seres cujas vidas não são levadas em conta por quem está no poder. 46. Assinale o que for correto sobre o romance Os ratos, de Dyonélio Machado. 01) O romance, publicado na década de 1930, integra a vertente da segunda geração do Modernismo brasileiro, conhecida como a do “romance de 30”, em função de sua temática exclusivamente agrária e de sua preocupação com questões sociais ligadas ao homem do campo. 02) Narrado em terceira pessoa, o romance de Dyonélio Machado põe em evidência a luta pela sobrevivência no sertão nordestino, em que homens e bichos se igualam na tentativa de sobreviver à seca. 04) Embora o romance seja narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente, o narrador se fixa em Naziazeno Barbosa, funcionando como filtro dos pensamentos, sentimentos e percepções da personagem. 08) O romance, cuja ação se passa em apenas um dia, se ocupa da história de um funcionário público em busca de dinheiro para saudar sua dívida com o leiteiro, sob pena de ter suspenso o fornecimento do leite necessário à sobrevivência do filho. 16) A história narrada no romance divide-se em dois grandes segmentos: o primeiro diz respeito à saga do protagonista em busca do dinheiro para saudar sua dívida com o leiteiro; o segundo se inicia com os acontecimentos que se seguem à conquista do dinheiro e se estende até o final da narrativa e é marcado pelo medo de que algo possa acontecer com o dinheiro antes de ele ser entregue ao leiteiro. COOPVEST GABARITO 01 – B 09 – D 17 – D 25 – D 33 – D 41 – A - Profª Daliana 02 – D 10 - C 18 – C 26 – C 34 – D VVVFF 03 – B 11 – A 19 – C 27 – E 35 – C 43 – A 21 04 – A 12 – D 20 – C 28 – B VVVFV VFVFV 05 - C 13 - A 21 29 - C 37 - C FVFFF 06 – D 14 – D 22 – A 30 – C 38 – E FFVVV 07 - C 15 - A 23 - B 31 - D 39 - A 08 – A 16 – B 24 – D 32 - B 40 – C QUESTÕES ABERTAS 01 - Caracterize Naziazeno como personagem central do romance “Os Ratos”. Resposta : Naziazeno é um herói impotente diante de uma situação aparentemente simples: conseguir dinheiro para garantir o bem-estar da família (principalmente do filho pequeno). É o homem comum rebaixado à condição de miserável, exposto à humilhação e ao anonimato que caracterizam o viver das aglomerações urbanas. 02 - (UFMG) - Redija um texto JUSTIFICANDO o seguinte comentário sobre Os Ratos: “Em nenhum outro romance brasileiro, a banalidade foi convertida tão magistralmente em eixo básico de toda a ação”. Resposta: A ação da narrativa de Os Ratos concentra-se, basicamente, na busca por uma quantia de dinheiro quase irrisória, empreendida pelo atormentando protagonista, a fim de saldar uma conta com o leiteiro. A paixão, a violência ou a morte (tão comuns nos grandes relatos épicos) não comparece nessa obra, apenas a mediocridade do cotidiano, a necessidade de se arranjarem alguns mil réis para se quitar uma dívida. Entretanto, essa falta de estímulo épico, e mesmo lírico, acaba sendo compensada (daí a grandiosidade de Os Ratos) pela fixação minuciosa do dia-a-dia da pequena burguesia carente e endividada, vivendo seus dramas financeiros, no Porto Alegre dos anos 30, cidade ainda provinciana. 03 - (UFMG) - De acordo com a mitologia, Sísifo, para se libertar os Infernos, deveria rolar uma enorme rocha montanha acima. Caso conseguisse atingir o cume com a pedra, estaria liberto. No entanto, toda vez que atingia o ponto máximo da elevação, a rocha caía, forçando-o a recomeçar o trabalho. Redija um texto ESTABELECENDO uma analogia entre essa personagem e Naziazeno Barbosa de Os Ratos. Resposta: Naziazeno vive e revive diariamente o drama de sua condição de medíocre funcionário público. Tendo de sustentar mulher e filho com um salário insuficiente, frequentemente contrai dívidas. Desse modo, sua luta cotidiana resume-se na ânsia como a personagem mitológica, seu esforço nunca tem fim, uma vez que o resgate de um compromisso só torna possível com a contração de outro. 04 - (UFMG) - Leia os trechos abaixo, extraídos de Os Ratos: Se ela fizer perguntas, arruma-se com umas nuvens evasivas. Ele não pode perder o prestígio de marido, que vai, vira e cava. Ela fica assim imaginando o esforço, e ele quite com ela e com todas aquelas humilhações. A palavra e a figura do diretor esmagaram-no, “esmagaram-no”, é o termo. Não poderá discutir com a mulher, exigir respeito, depois do que lhe sucedeu; seria iníquo. A partir desses trechos, redija um texto COMENTANDO a posição do protagonista frente em virtude da dívida contraída com o leiteiro. Resposta: O que mais parece angustiar Naziazeno na questão da dívida é, na realidade, sua dignidade com homem, sua identidade masculina. O protagonista, logo pela manhã, é humilhado pelo leiteiro, que expõe publicidade sua situação de mal pagador. Além disso, sente-se também envergonhado diante dos olhares curiosos dos vizinhos. Mas, principalmente, é como homem que se vê rebaixado frente a mulher, humilhado na sua condição de chefe de família, incapacitado de cumprir sua tarefa doméstica. COOPVEST - Profª Daliana 22 05 - (UFMG) - Levando-se em consideração o título da obra de Dyonélio Machado, redija um texto EXPLICANDO em que medida os termos “doar” e “roer” podem relacionar-se com a alternativa de Os Ratos. Resposta: O título da obra de Dyonélio Machado pode ser entendido como metáfora daquele que perambulam pela cidade, vivendo do trabalho informal consegue se manter a partir de biscate, de ninharias conquistadas aqui e ali, mas que se revelam solidários com seus pares de infortúnio. Alcides e Duque tiram Naziazeno da rotina da dívida com o leiteiro, praticamente doando uma quantia pouco mais que suficiente para que ele quitasse o seu compromisso. No entanto, ao final da narrativa, após depositar o dinheiro na mesa da cozinha, o protagonista sente medo de ver o esforço ir por água abaixo, em vista da possibilidade de ratos roerem as cédulas destinadas para eliminar a sua dívida com o leiteiro. 06 - (UFMG) - Leia a seguinte passagem, extraída de Os ratos: “Naziazeno vê o sol, uma moeda em brasa suspensa num vapor avermelhado e espesso”. Tendo em vista o eixo temático da obra de Dyonélio Machado, redija um texto EXPLICANDO a ironia da metáfora presente na passagem transcrita. Resposta: Desde cedo, o protagonista vai rastreando a cidade à procura do dinheiro capaz de solucionar o seu problema com o leiteiro. Cansado e sem comer, variadas vezes sente-se fadigado debaixo do sol que o castiga. O calor intenso e opressivo irá se associar, ironicamente, à opressão provocada pela dívida e vice-versa, daí a visão do sol como “uma moeda em brasa suspensa”. 07 - A partir da leitura de Os ratos, de Dyonelio Machado, REDIJA um texto, explicando por que a dificuldade de expressão linguística de Naziazeno, o seu quase mutismo, contribui para caracterizá-lo como indivíduo oprimido pelo sistema social em que se insere. Resposta: A forma de Naziazeno expressar-se contribui para caracterizá-lo como indivíduo oprimido pelo sistema social em que se insere, porque o torna introspectivo; fala pouco, mas pensa muito. Expressando-se, assim, demonstra aceitar, com resignação, todas as imposições do sistema capitalista, em que ele é explorado. 08 - Em Os ratos, de Dyonelio Machado, embora Naziazeno tenha conseguido pagar a dívida com o leiteiro sua principal e obstinada preocupação ao longo de toda a narrativa, a história não tem um final feliz. REDIJA um texto, justificando essa afirmativa. Resposta: A busca exaustiva por dinheiro e o fato de ter conseguido saldar a dívida com o leiteiro dá a sensação de que tudo fora resolvido, o que não acontece, uma vez que, no dia seguinte, a dívida de Naziazeno era maior; e, assim, a luta para quitá-la também. Isso faz com que Naziazeno seja considerado representante de muitos brasileiros, que acumulam dívidas até o total processo de aniquilação. 09 – Redija um texto para explicar por que Porto Alegre atua como antagonista do pequeno funcionário público. Resposta: Porto Alegre, em pleno processo de expansão capitalista, atua, sob muitos aspectos, como antagonista diante das expectativas e das necessidades do pequeno funcionário. Isso acontece porque, elevada ao nível de um personagem, é natural que a cidade se apresente de maneira bastante intensa, sendo mais do que um espaço físico onde habitam muitas pessoas juntas; mas sim o locus, por excelência, do consumo, das conseqüências da economia monetária, do aumento do nervosismo e da tensão, do domínio do universo exterior sobre a interioridade, das aparências e da indiferença; local em que todos são nivelador pelo dinheiro, fato que sufoca Naziazeno, pois todos buscam o dinheiro obstinadamente. 10 – Redija um texto, comentando a afirmativa: O sofrimento de Naziazeno não se deve apenas à dificuldade financeira que enfrenta, mas também a um descompasso entre as imposições do ambiente e os sentimentos que experimenta. Resposta: Naziazeno não se sente capaz de administrar as peças da engrenagem a serem postas em funcionamento para atender a todas as exigências da vida urbana. Isso porque ele é um habitante da cidade, mas COOPVEST - Profª Daliana 23 sonha com o campo e pertence à época do leiteiro, do padeiro, além de morar numa casa em que não há geladeira (é o gelo que garante a conservação da manteiga). Esse sentimento leva-o ao sofrimento, pois ao defrontar-se com determinado problema, o protagonista sabe apenas recorrer a um expediente, “o recurso amigo e a solidariedade”, desconhecendo meios racionais que possam apresentar uma solução definitiva para a sua situação. Assim, encontra-se dividido entre dois tempos, o antigo e o novo, presididos por lógicas opostas.